Já se aram quase 10 anos desde que 194 países adotaram o Acordo de Paris. E, embora muitos tenham avançado, os esforços coletivos ainda estão muito aquém do necessário para evitar os impactos cada vez mais perigosos das mudanças climáticas e limitar o aquecimento a 1,5°C.

A avaliação mais recente da ONU, por exemplo, aponta que as políticas atuais dos países colocam o mundo no caminho para um aquecimento de 3,1°C, com as emissões de gases de efeito estufa (GEE) permanecendo estáveis em 57 gigatoneladas métricas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e) em 2030 e 2035. Para manter o aumento da temperatura global dentro do limite de 1,5°C, essas emissões precisariam cair para 33 GtCO2e em 2030 e 25 GtCO2e em 2035.

A boa notícia é que 2025 apresenta uma nova oportunidade para promover essa mudança de rumo, já que os países devem apresentar novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) antes da COP30, em novembro. O Acordo de Paris exige que cada nova NDC represente a “maior ambição possível” de um país, bem como suas “responsabilidades comuns, porém diferenciadas, e respectivas capacidades”. Agora, todas as atenções estão voltadas para os governos, que devem estabelecer novas metas de redução de emissões para 2035, além de fortalecer as metas já existentes para 2030, alinhadas a esses princípios fundamentais. Mas, à medida que as novas NDCs começam a ser apresentadas, uma pergunta permanece: o quão ambiciosas devem ser as metas para grandes emissores, como a União Europeia ou a China?

Uma resposta simples? Não importa de que ângulo você olhe – os maiores emissores precisam fazer mais. 

Uma resposta mais detalhada, porém, é mais complexa.

5 abordagens para estabelecer metas nacionais de redução de emissões para 2030 e 2035

A divisão de responsabilidades entre os países para alcançar qualquer meta global é um processo complexo, que envolve diferentes valores. Por exemplo, os países que têm a capacidade de reduzir emissões de forma mais rápida e com menos custos deveriam estabelecer as metas mais ambiciosas? Ou as nações ricas, que historicamente emitiram a maior quantidade de gases de efeito estufa (GEE), é que deveriam assumir a maior parte da responsabilidade?

Diferentes setores da comunidade climática tratam essas questões de maneiras distintas, utilizando diferentes métodos para desenvolver referenciais nacionais de curto prazo. Essas perspectivas podem gerar resultados também diferentes – e, para alguns países, até contraditórios.

Para ilustrar como a ambição pode ser interpretada sob diferentes perspectivas, avaliamos seis países. Compilamos as metas de referência nacionais para 2030 e 2035 derivadas de cinco das abordagens mais utilizadas e comparamos às metas apresentadas nas NDCs mais recentes desses países. Essas abordagens incluem:

1) Trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C: cenários modelados que limitam o aquecimento a 1,5°C ao menor custo possível — como os apresentados em relatórios do Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) — estão entre as fontes mais comuns para estabelecer metas de referência nacionais. Embora alguns modelos climáticos globais já consigam gerar caminhos de menor custo para grandes emissores, outros ainda carecem de dados em nível nacional. Assim, eles simulam cenários globais ou regionais que precisam ser desagregados para o nível de cada país.

Além de maximizar a relação custo-benefício em escala global, um dos principais benefícios de derivar metas de referência nacionais de cenários de menor custo alinhados ao limite 1,5°C é a capacidade de considerar interações importantes entre setores (por exemplo, descarbonizar a geração de energia e, ao mesmo tempo, expandir o uso de veículos elétricos pode reduzir as emissões do transporte) e entre países (por exemplo, como políticas adotadas em uma grande economia podem ajudar a reduzir o custo de tecnologias de zero carbono em geral e, assim, acelerar sua adoção em outras nações).

No entanto, esses cenários também têm sido alvo de críticas que vão além das questões de equidade e justiça. Mais especificamente, trajetórias incluem remoção de carbono em larga escala por meio de bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS) e ações de reflorestamento que podem prejudicar a biodiversidade, a segurança alimentar e os direitos humanos.

Assim, embora apresentemos as referências para 2030 e 2035 baseadas em trajetórias de menor custo que mantém o aquecimento dentro do limite a 1,5°C segundo o banco de dados do IPCC, excluímos aqueles que dependem de níveis insustentáveis de BECCS e reflorestamento, seguindo os critérios desenvolvidos pela Climate Analytics utilizados no benchmarking global e setorial da série State of Climate Action. Idealmente, outras abordagens que usam essas trajetórias como ponto de partida para estabelecer metas nacionais – em especial as perspectivas de contribuição justa (fair-share) alinhadas a 1,5°C – também deveriam adotar filtros semelhantes.

2) Trajetórias de contribuição justa alinhadas ao limite de 1,5°C: uma crítica recorrente ao uso exclusivo de trajetórias baseadas no menor custo para estabelecer as metas de referência nacionais é que ignoram questões de equidade e justiça. Não apenas as desigualdades de renda, uso de energia e emissões de GEE entre os países persistem nos cenários do IPCC que limitam o aquecimento a 1,5°C, como também, por priorizarem a eficiência econômica, essas trajetórias podem atribuir a alguns países em desenvolvimento uma responsabilidade pela redução das emissões desproporcional em relação à sua contribuição para a crise climática. As trajetórias de contribuição justa buscam corrigir essa questão – por exemplo, considerando a responsabilidade histórica pelas emissões, a capacidade econômica e a igualdade nas emissões per capita – ao determinar a contribuição de cada país para cumprir a meta de 1,5°C.

No entanto, mesmo a definição de o que é equidade e justiça entre diferentes abordagens de contribuição justa é um ponto ainda altamente contestado, e essas perspectivas nem sempre levam em conta a viabilidade prática. As contribuições justas de alguns países, por exemplo, exigiriam que suas emissões de GEE chegassem ao zero líquido ou se tornassem negativas até 2030, mas quedas tão abruptas desafiam os limites de viabilidade mesmo sob as condições políticas mais favoráveis. Nesses casos específicos, pode-se permitir que os países compensem o que não conseguirem reduzir domesticamente financiando reduções de emissões em outros territórios.

3) Trajetórias nacionais modeladas para o zero líquido: outros métodos evitam inteiramente o uso de trajetórias globais e, em vez disso, baseiam-se em modelagens específicas para cada país. Esses cenários não se concentram em determinar a contribuição individual de uma nação para a meta global de limitar o aquecimento a 1,5°C, mas em alcançar a promessa daquele país de atingir o zero líquido das emissões. Eles mostram o quanto as emissões precisam cair até 2030 e 2035 para que se mantenham alinhadas à trajetória do zero líquido — em geral, por volta da metade do século para a maioria dos países.

4) Trajetórias lineares para o zero líquido: uma abordagem relacionada, porém mais simples, que vem ganhando força entre alguns governos é a da trajetória “linear ou mais acentuada” para atingir o zero líquido. Basicamente, se os países traçassem uma linha reta até o zero líquido de duas emissões – por exemplo, 0 GtCO2e em 2050 –, suas metas para 2030 e 2035 deveriam estar sobre essa linha ou abaixo dela, refletindo uma queda constante nas emissões a cada ano. No entanto, é preciso atentar aos detalhes, pois o ponto de partida escolhido pelos governos pode impactar de forma significativa a inclinação dessa linha – quanto mais inclinada, mais ambiciosas serão as metas de referência nacionais.

5) Modelagem de baixo para cima, com foco na viabilidade: esse método é baseado em modelagens específicas para cada país para determinar qual nível de mitigação é viável dentro de uma nação, independentemente de um limite global de aquecimento ou do compromisso do país de atingir o zero líquido. Muitas vezes usando dados mais detalhados e específicos do país, esses estudos estimam o quanto um país pode reduzir as emissões de GEE com a implementação de precificação de carbono, a adoção de um portfólio específico de políticas ou uso de tecnologias de carbono zero. Alguns desses esforços de modelagem também quantificam a mitigação possível se um país promover uma “transição justa” ou alcançar prioridades nacionais de desenvolvimento em paralelo aos esforços de mitigação das mudanças climáticas. Esses cenários podem, no fim, traçar trajetórias para o zero líquido das emissões ou demonstrar que reduções acentuadas, em linha com as trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C, são viáveis – mas esses objetivos finais não são pré-requisitos da modelagem.

Essa lista de métodos não é definitiva. Por exemplo, não incluímos a abordagem de orçamento de carbono devido à falta de metas de referência nacionais para 2030 e 2035. Mas, assim como as trajetórias de contribuição justa alinhadas ao limite de 1,5°C, essa abordagem busca distribuir de forma mais equitativa a responsabilidade pela meta de temperatura do Acordo de Paris, alocando o orçamento global de carbono aos países de acordo com suas respectivas parcelas da população mundial.

O que seriam metas ambiciosas de redução de emissões para 2030 e 2035 para 6 dos maiores emissores do mundo?

Juntos, China, Estados Unidos, Índia, União Europeia, Brasil e Indonésia emitem mais da metade dos GEEs do mundo a cada ano. A ambição climática desses países no curto prazo é crucial para determinar se o mundo conseguirá reduzir emissões o suficiente para manter o aumento da temperatura global dentro do limite de 1,5ºC.

Com base nas cinco abordagens citadas anteriormente, avaliamos a ambição das metas atuais desses países e, no caso dos que ainda não apresentaram suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), como poderiam ser ainda mais ambiciosas.

O resumo é que, embora a maioria tenha estabelecido metas consideradas ambiciosas sob pelo menos uma perspectiva, nenhum desses países apresenta metas para 2030 e 2035 ambiciosas o suficiente dentro de todas as cinco abordagens avaliadas. Além disso, todas as seis NDCs estão aquém do necessário para manter a meta de 1,5ºC ao alcance.

 

 

Brasil

O Brasil foi um dos primeiros a submeter uma nova NDC, em novembro de 2024, comprometendo-se a reduzir as emissões de GEE entre 59% e 67% até 2035 em relação aos níveis de 2005. Embora o governo do presidente Lula não tenha fortalecido a meta do país para 2030, que visa reduzir as emissões de GEE em 53% em relação aos níveis de 2005, ele reiterou a promessa do Brasil de atingir a neutralidade climática até 2050. Se alcançadas, essas metas farão com que as emissões de GEE caiam de 2,6 GtCO2e em 2005 para 1,2 GtCO2e até 2030, 0,84-1,0 GtCO2e até 2035 e 0 GtCO2e até 2050.

A meta do Brasil para 2030 é considerada ambiciosa dentro de duas das cinco abordagens, enquanto a meta para 2035 está totalmente alinhada com apenas uma das abordagens. Mais especificamente, trajetórias lineares para o zero líquido mostram que as emissões de GEE do Brasil podem cair para 1,1-1,5 GtCO2e até 2030 e 0,85-1,1 GtCO2e até 2035 – o equivalente a reduções de 43%-56% e 57%-67% em relação aos níveis de 2005, respectivamente. Modelagens de baixo para cima com foco na viabilidade afirmam que reduções dessa magnitude no curto prazo são possíveis.

No entanto, alinhar a NDC do Brasil com o limite de 1,5°C exigiria reduções mais acentuadas. As trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C mostram que as emissões de GEE do país podem cair de 84% a 93% até 2035 em relação aos níveis de 2005, enquanto uma abordagem de contribuição justa desenvolvida pelo Observatório do Clima prevê reduções igualmente acentuadas, com as emissões de GEE diminuindo 93% em relação aos níveis de 2005 até o mesmo ano. Em termos reais, isso significa que as emissões de GEE cairiam para 0,17-0,42 GtCO2e até 2035.

Embora o Brasil já tenha apresentado sua nova NDC, ainda há oportunidades para a gestão de Lula aprofundar os esforços de mitigação na próxima década. Por exemplo, o governo ainda não publicou uma estratégia de longo prazo, o que poderia ajudar a orientar a implementação.

China

A China ultraou os Estados Unidos como o maior emissor mundial no início dos anos 2000, com as emissões anuais de gases de efeito estufa (GEE) subindo de aproximadamente 6,9 GtCO2e em 2005 para quase 13 GtCO2e em 2021. Em sua NDC mais recente, de 2021, o governo chinês se comprometeu a atingir o pico de emissões de CO₂ antes de 2030, reduzir a quantidade de CO₂ emitida por unidade de PIB produzido (também conhecida como intensidade de carbono) em pelo menos 65% em relação aos níveis de 2005 até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2060. A falta de detalhamento da NDC, porém, assim como a incerteza quanto ao escopo da meta de zero líquido do país, dificulta a definição desses compromissos em números absolutos de GtCO2e. No entanto, uma análise recente do Climate Watch sugere que as emissões de GEE da China atingiriam cerca de 13 GtCO2e em 2030 se o governo alcançasse sua meta de intensidade no curto prazo.

A meta da China para 2030 é considerada pouco ambiciosa em todas as abordagens analisadas. No entanto, as abordagens diferem quanto à magnitude da redução necessária até o final desta década. Trajetórias de menor custo alinhados ao limite de 1,5°C, por exemplo, indicam quedas acentuadas (para 4,9–5,9 GtCO2e), enquanto modelos específicos para o país, visando a neutralidade de carbono, sugerem quedas menores (para cerca de 11 GtCO2e). Em todas as abordagens, contudo, as emissões de GEE ficam abaixo dos 13 GtCO2e implícitos na NDC atual da China. Isso sugere que a China pode fortalecer sua meta de 2030 de forma considerável.

As cinco abordagens também indicam a necessidade de reduções contínuas nas emissões de GEE até 2035. Perspectivas baseadas em uma divisão justa de responsabilidades sugerem quedas relativamente modestas nas emissões de GEE, para 7,3–12 GtCO2e (considerando que esses números não incluem emissões de uso da terra, mudança de uso da terra e florestas (LULUCF), que atuam como um sumidouro líquido e representam -5% do total líquido de emissões da China). Trajetórias modeladas para o zero líquido também ficam dentro desse intervalo. No entanto, outras abordagens indicam cortes muito mais profundos. Modelagens de baixo para cima focadas na viabilidade, por exemplo, indicam que a China poderia reduzir suas emissões de GEE para 4,8–8,9 GtCO2e até 2035, enquanto trajetórias de menor custo alinhados ao limite de 1,5°C projetam a redução de emissões para 3,8–4,6 GtCO2e no mesmo ano.

Responsável pela emissão de cerca de um quarto dos GEE globais, a China tem um impacto significativo na capacidade do mundo de enfrentar a crise climática. Um compromisso de redução drásticas das emissões por parte da China, bem como uma meta muito mais ousada para 2030 em sua próxima NDC, poderiam contribuir de forma substancial para manter o limite de 1,5°C possível.

União Europeia

Na NDC mais recente da União Europeia (EU), submetida em 2023, os 27 países membros se comprometem a reduzir as emissões de GEE em pelo menos 55% em relação aos níveis de 1990 até 2030, além de alcançar coletivamente a neutralidade climática até 2050. Se implementadas todas as medidas da NDC, as emissões de GEE da região cairiam dos atuais 3,1 GtCO2e para 2,1 GtCO2e até o final desta década e para 0 GtCO2e até meados do século.

A meta atual da UE para 2030 está alinhada a apenas duas abordagens. Trajetórias lineares para o zero líquido apontam uma redução das emissões de GEE da região para 1,5–2,2 GtCO2e até o final da década, e as modelagens de baixo para cima focadas na viabilidade indicam que o limite superior desse intervalo é possível. No entanto, para manter o aquecimento dentro do limite de 1,5°C, a UE precisaria fortalecer sua ambição no curto prazo. As trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C projetam as emissões de GEE caindo para 1,9–2,0 GtCO2e – o equivalente a uma redução de 57% a 60% em relação aos níveis de 1990. Já uma trajetória de contribuição justa exigiria mais ambição. Sob essa ótica, as emissões de GEE (não incluindo LULUCF) cairiam para próximo de zero ou abaixo disso, representando uma redução de 91% em relação a 1990. Essas tendências se mantêm mesmo considerando o sumidouro de carbono da região, que sequestrou em média 0,29 GtCO2e por ano desde 1990.

Para além de 2030, são necessárias quedas contínuas e acentuadas nas emissões. Atualmente, os formuladores de políticas da UE debatem uma nova meta, proposta pela Comissão Europeia, que reduziria as emissões de GEE em 90% até 2040, em comparação aos níveis de 1990. A meta para 203 ainda não foi formalmente definida, e também estão em andamento debates ativos a respeito. Alguns optam por traçar uma linha reta da meta de2030 até a meta existente para 2050, argumentando que a meta para 2035 deveria representar uma redução de 66% em relação a 1990. Outros, optam por traçar essa linha a partir da meta de 2030 até a meta proposta para 2040, defendendo uma redução de 73% em relação a 1990 até 2035. Abordagens que limitam o aquecimento a 1,5°C exigem ainda mais ambição. As trajetórias de menor custo, por exemplo, modelam uma redução de 71% a 80% nas emissões de GEE em relação a 1990, enquanto abordagens de contribuição justa indicam que as emissões da UE (não incluindo LULUCF) cairiam mais de 100%. Portanto, apenas a redução de 73% em discussão entre os legisladores da UE poderia ser considerada ambiciosa o suficiente para um futuro alinhado à meta 1,5°C.

Índia 

As emissões de GEE da Índia ainda não atingiram o pico, ando de cerca de 2 GtCO2e em 2005 para 3,4 GtCO2e em 2021. A NDC mais recente do país, de 2022, estabeleceu o objetivo de reduzir a quantidade de emissões liberadas por unidade de PIB produzido (métrica também conhecida como intensidade de emissões) em 45% em relação aos níveis de 2005 até 2030. A NDC também reafirmou a meta de alcançar o zero líquido até 2070. O governo, no entanto, ainda não esclareceu se essas metas se referem a todos os GEE ou apenas ao CO2, e essa falta de definição dificulta os esforços para avaliar a ambição do país. Considerando que o compromisso da Índia de reduzir a intensidade das emissões abranja todos os GEE, uma análise recente apresentada pelo Climate Watch sugere que atingir essa meta de curto prazo aumentaria ainda mais as emissões para 4,7 GtCO2e até 2030.

Embora todas as abordagens permitam algum aumento nas emissões de GEE da Índia até 2030, a meta atual do país está alinhada com apenas duas delas. Modelagens específicas que estimam o nível de redução viável com diferentes portfólios de políticas, por exemplo, mostram as emissões da Índia atingindo entre 3,4–5,1 GtCO2e em 2030, enquanto modelagens nacionais rumo ao zero líquido projetam o aumento das emissões de GEE para 4,8 GtCO2e até o final desta década. Abordagens de contribuição justa alinhadas ao limite de 1,5°C (particularmente relevantes nesse caso, tendo em vista a pequena contribuição da Índia para a crise climática, seu baixo nível de emissões per capita e os desafios de desenvolvimento do país) mostram um aumento um pouco menor, para 3,7–4,0 GtCO2e até 2030 (não incluindo emissões LULUCF, que atuam como sumidouro líquido e representam apenas -1% do total líquido de emissões da Índia).

Embora haja divergências nas abordagens sobre se as emissões da Índia podem continuar subindo até 2035, todas consideram que as emissões não podem ar substancialmente dos níveis necessários para a meta de 2030. Em um extremo do espectro, trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C modelam as emissões de GEE caindo para 1,6–2,3 GtCO2e até 2035, enquanto, no outro extremo, trajetórias nacionais modeladas para o zero líquido indicam que as emissões se estabilizariam em aproximadamente 4,8 GtCO2e em 2035. Abordagens de contribuição justa também indicam que as emissões permaneceriam relativamente constantes, em 3,7–4,1 GtCO2e em 2035. Já modelagens de baixo para cima focadas na viabilidade projetam um cenário mais variado, com as emissões oscilando entre 2030 e 2035 em diferentes cenários.

Indonésia

A NDC mais recente da Indonésia, de 2022, estabelece o compromisso reduzir as emissões de GEE em cerca de 32% até 2030, se mantidas as políticas atuais (sua meta “incondicional”). Com financiamento climático adicional de doadores internacionais, o governo poderia alcançar uma redução mais acentuada, de mais de 43% (meta condicional). Em emissões absolutas, essas duas metas equivalem a 2 GtCO2e (incondicional) ou 1,6 GtCO2e (condicional) em 2030, em comparação com a emissão atual de 1,4 GtCO2e. O governo também já havia prometido atingir o pico de emissões de GEE até 2030 e alcançar o zero líquido até 2060.

As metas da Indonésia para 2030 estão aquém de todas as abordagens, exceto uma. As trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C apontam uma queda de emissões para 0,80–0,88 GtCO2e até 2030; modelagens de baixo para cima focadas na viabilidade indicam quedas semelhantes, mas um pouco menores. Apenas as trajetórias nacionais modeladas para alcançar o zero líquido até 2060 mostram um aumente de emissões em relação aos níveis atuais para chegar a 1,6–2,8 GtCO2e em 2030, uma faixa que abrange tanto as metas condicionais quanto incondicionais do país.

Enviar uma nova NDC este ano oferece à Indonésia a oportunidade de não apenas fortalecer sua meta atual para 2030, como estabelecer uma meta mais ambiciosa para 2035. As trajetórias nacionais modeladas para alcançar o zero líquido até 2060 mostram as emissões atingindo o pico em 2030, antes de caírem para entre 1,3–2,4 GtCO2e em 2035, enquanto trajetórias lineares rumo à mesma meta indicam uma redução mais acentuada, para 1,0–1,6 GtCO2e. Trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C projetam quedas ainda mais ambiciosas, para 0,61–0,78 GtCO2e em 2035, e as modelagens de baixo para cima focadas na viabilidade confirmam que cortes dessa magnitude tecnicamente podem ser alcançados.

Estados Unidos

Pouco antes de deixar o cargo, a istração Biden publicou a nova NDC dos Estados Unidos. No documento, o segundo maior emissor do mundo assume o compromisso de reduzir as emissões de GEE entre 61% e 66% em relação aos níveis de 2005 até 2035, além de reafirmar a promessa anterior (redução de 50–52% até 2030) e atingir o zero líquido até 2050. Em números absolutos, a NDC promete que as emissões de GEE cairão de 6,6 GtCO2e em 2005 para 3,2–3,3 GtCO2e até 2030, 2,2–2,6 GtCO2e até 2035 e 0 GtCO2e até 2050.

No entanto, com a mudança de governo e a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris durante a gestão de Trump, o governo já começou a reverter ações climáticas, além de adotar tarifas que dificultam os esforços de combate à crise climática. Mesmo assim, grupos da sociedade civil e diversos governos estaduais se mobilizaram em torno da nova NDC e se comprometeram a continuar avançando rumo a essas metas.

As metas dos EUA para 2030 e 2035 são consistentes com três das cinco abordagens analisadas. Reduzir as emissões de GEE para 2,2–2,6 GtCO2e até 2035 está dentro do intervalo estimado pelas modelagens de baixo para cima focadas na viabilidade, pelas trajetórias nacionais modeladas para o zero líquido e pelas trajetórias lineares para a mesma meta. As mesmas tendências se aplicam à meta atual dos EUA para 2030.

No entanto, para alinhar as metas dos EUA ao limite de 1,5°C, são necessárias reduções mais profundas. Trajetórias de menor custo para esse limite de temperatura, por exemplo, exigem que as emissões caiam para 2,4–3,1 GtCO2e até 2030 e 1,6–2,3 GtCO2e até 2035 – e apenas o limite mais ambicioso da meta dos EUA para 2035 se enquadra nesse intervalo. Perspectivas baseadas em contribuição justa defendem que os EUA – na posição de país mais rico do mundo, com altas emissões per capita, além de o maior emissor acumulado de GEE desde a era pré-industrial – têm a obrigação de fazer mais. Sob essa ótica, as emissões de GEE (sem incluir LULUCF) precisariam cair pelo menos 87% até 2030 e 99% até 2035, em relação aos níveis de 2005. Essas tendências se mantêm mesmo considerando o sequestro médio anual de 0,90 GtCO2e realizado pelo país desde 2005. Como quedas tão acentuadas são improváveis apenas com esforços domésticos, os EUA poderiam contribuir com o fornecimento de financiamento adicional para apoiar a redução de emissões e a remoção de carbono em outros países.

Os principais emissores apresentarão NDCs mais ambiciosas?

O Acordo de Paris é claro: as NDCs devem refletir a “maior ambição possível” de cada país, com cada nova rodada apresentando metas mais ambiciosas do que a anterior. Mas, como esta análise confirma, ainda existem lacunas entre as metas de curto prazo dos principais emissores e o que é necessário e urgente para manter o limite de 1,5°C ao alcance. Para alguns países, as metas para 2030 e 2035 também estão aquém da ambição necessária para cumprirem suas próprias metas.

Mais ambição de todos os países – em especial dos principais emissores – é fundamental. Em um momento de incerteza econômica global, a necessidade de uma ação climática ambiciosa, que promova tanto a prosperidade econômica inclusiva quanto estabilidade de longo prazo, é mais urgente do que nunca. As NDCs apresentadas em 2025, assim como os planos e financiamentos que os países implementarem para cumpri-las, determinarão o destino da meta de temperatura do Acordo de Paris. Os grandes emissores precisam mostrar liderança nesse momento, aumentando a ambição em suas novas NDCs.


Sobre os dados

Brasil

Para as trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C, as referências nacionais para 2030 e 2035 são derivadas dos cenários C1 do AR6 do IPCC, que foram filtrados para evitar o uso insustentável global de BECCS (bioenergia com captura e armazenamento de carbono) e reflorestamento, seguindo métodos desenvolvidos pela Climate Analytics. Para as trajetórias nacionais modeladas para o zero líquido, as referências para 2030 e 2035 são derivadas do cenário “Descarbonização Profunda”, da iniciativa Deep Decarbonization Pathways e dos dois cenários de “Transição Justa” da Iniciativa Clima e Desenvolvimento (2021). Para as trajetórias lineares rumo ao zero líquido, as referências para 2030 e 2035 são traçadas em linha reta desde a linha de base de 2005, o nível de emissões de 2022 e a meta da NDC de 2030 até alcançar o zero líquido de GEE em 2050. Para a modelagem de baixo para cima focada em viabilidade, as referências para 2030 e 2035 são derivadas do cenário de “Alta Ambição”, de Cui et al. (2024). Para as trajetórias de contribuição justa alinhadas ao limite de 1,5°C, as referências são derivadas do Observatório do Clima (2024). Devido a diferenças significativas entre essas fontes, os autores normalizaram os dados com base nas informações do Primeiro Relatório Bienal de Transparência do Brasil, de 2019.

China

Para as trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C, as referências nacionais para 2030 e 2035 são derivadas dos cenários C1 do AR6 do IPCC, que foram filtrados para evitar o uso insustentável global de BECCS e reflorestamento, seguindo métodos desenvolvidos pela Climate Analytics. Para trajetórias nacionais modeladas para o zero líquido, as referências nacionais para 2030 e 2035 são derivadas do cenário de “Neutralidade de Carbono” do Simulador de Política Energética e do cenário “GHG Net Zero” da iniciativa Deep Decarbonization Pathways. Para as trajetórias lineares para o zero líquido, um benchmark nacional para 2035 foi estabelecido a partir de uma linha reta desde a meta da NDC da China para 2030 até o zero líquido em 2060. Como as emissões da China ainda não atingiram o pico, os autores não traçaram uma linha reta a partir do ano mais recente de dados históricos. Para a modelagem de baixo para cima, com foco na viabilidade, os parâmetros nacionais para 2030 e 2035 são derivados dos cenários “Mitigação Climática” e “Rumo à Sustentabilidade” de Lu et al. (2024) e do cenário “Alta Ambição” de Cui et al. (2024). Devido a diferenças significativas entre essas fontes, os autores normalizaram os dados de todas as fontes com base nos dados do Climate Watch de 2019. Para trajetórias de contribuição justa alinhadas ao limite de 1,5°C, os parâmetros nacionais para 2030 e 2035 são derivados do cenário “Compartilhamento de Esforços” do Climate Action Tracker, bem como de dois cenários do Climate Equity Reference Project, que apresentam uma trajetória de contribuição justa intermediária e outra mais progressiva. Como essas trajetórias não incluem emissões LULUCF, os autores normalizaram os dados de ambas as fontes com base nos dados do Climate Watch (excluindo as emissões LULUCF em 2015). 

União Europeia

Para trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C, os parâmetros de referência regionais para 2030 e 2035 são derivados dos valores mínimos e máximos das trajetórias filtradas do Conselho Consultivo Científico Europeu sobre Mudanças Climáticas. Trajetórias regionais modeladas para o zero líquido não estão disponíveis para a UE. Para trajetórias lineares para o zero líquido, os parâmetros de referência regionais para 2030 e 2035 são derivados traçando linhas retas a partir da linha de base da UE de 1990, do nível de emissões de 2022 e da meta NDC de 2030 até o zero líquido, em 2050. Para a modelagem de baixo para cima, com foco na viabilidade, os parâmetros de referência regionais para 2030 e 2035 são derivados do cenário “Alta Ambição” de Cui et al. Devido a diferenças significativas entre essas fontes, os autores normalizaram os dados de todas as fontes com base no Primeiro Relatório Bienal de Transparência da UE, de 2019. Para trajetórias de contribuição justa alinhadas ao limite de 1,5°C, os parâmetros regionais para 2030 e 2035 são derivados do cenário “Compartilhamento de Esforços” do Climate Action Tracker, bem como de dois cenários do Climate Equity Reference Project, que apresentam uma trajetória de contribuição justa intermediária e outra mais progressiva. Como essas trajetórias não incluem emissões LULUCF, os autores normalizaram os dados de ambas as fontes com base em dados do Primeiro Relatório Bienal de Transparência da UE (não incluindo emissões LULUCF em 2015). 

Índia

Para as trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C, as referências nacionais para 2030 e 2035 são derivadas dos cenários C1 do AR6 do IPCC, que foram filtrados para evitar o uso insustentável global de BECCS e reflorestamento, seguindo métodos desenvolvidos pela Climate Analytics. Para trajetórias nacionais modeladas para o zero líquido, as referências nacionais para 2030 e 2035 são derivadas do cenário “NDC aprimorada” da iniciativa Deep Decarbonization Pathways. Para trajetórias lineares para o zero líquido, um benchmark nacional para 2035 foi estabelecido a partir de uma linha reta desde a meta de NDC da Índia para 2030 até o zero líquido em 2070. Como as emissões da Índia ainda não atingiram o pico, os autores não traçaram uma linha reta a partir do ano mais recente de dados históricos. Para a modelagem de baixo para cima, com foco na viabilidade, os parâmetros nacionais para 2030 e 2035 são derivados dos cenários “Descarbonização de Longo Prazo” e “Conexões NDC-ODS” do Energy Policy Simulator, do cenário “Net Zero” da GEM Índia e do cenário “Alta Ambição” de Cui et al. (2024). Devido a diferenças significativas entre essas fontes, os autores normalizaram os dados de todas as fontes com base nos dados do Climate Watch de 2019. Para trajetórias de contribuição justa alinhadas ao limite de 1,5°C, os parâmetros nacionais para 2030 e 2035 são derivados do cenário “Compartilhamento de Esforços” do Climate Action Tracker, bem como de dois cenários do Climate Equity Reference Project, que apresentam uma trajetória de contribuição justa intermediária e outra mais progressiva. Como essas trajetórias não incluem emissões LULUCF, os autores normalizaram os dados de ambas as fontes com base nos dados do Climate Watch (excluindo as emissões LULUCF em 2015). 

Indonésia

Para as trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C, as referências nacionais para 2030 e 2035 são derivadas dos cenários C1 do AR6 do IPCC, que foram filtrados para evitar o uso insustentável global de BECCS e reflorestamento, seguindo métodos desenvolvidos pela Climate Analytics. Para trajetórias nacionais modeladas para o zero líquido, os parâmetros de referência nacionais para 2030 e 2035 são derivados dos cenários “DDS Baixo” e “DDS Alto” da iniciativa Deep Decarbonization Pathways e do cenário “NZ2060” da Low Carbon Development Initiative (2021). Para trajetórias lineares para o zero líquido, um parâmetro nacional para 2035 foi estabelecido traçando linhas retas a partir das metas da NDC do país para 2030 e do valor máximo declarado em 2030 para o zero líquido em 2060. Para a modelagem de baixo para cima, com foco na viabilidade, os parâmetros nacionais para 2030 e 2035 são derivados do cenário “Alta Ambição” de Cui et al. (2024). Devido a diferenças significativas entre essas fontes, os autores normalizaram os dados de todas as fontes com base nos dados do Primeiro Relatório Bienal de Transparência da Indonésia, de 2019. Para trajetórias de contribuição justa alinhadas ao limite de 1,5°C, os parâmetros nacionais para 2030 e 2035 são derivados do cenário “Compartilhamento de Esforços” do Climate Action Tracker, bem como de dois cenários do Projeto de Referência de Equidade Climática, que apresentam uma trajetória de contribuição justa intermediária e outra mais progressiva. Como essas trajetórias não incluem emissões LULUCF, os autores normalizaram os dados de ambas as fontes com base nos dados do Primeiro Relatório Bienal de Transparência da Indonésia (excluindo as emissões LULUCF em 2015). 

Estados Unidos

Para as trajetórias de menor custo alinhadas ao limite de 1,5°C, as referências nacionais para 2030 e 2035 são derivadas dos cenários C1 do AR6 do IPCC, que foram filtrados para evitar o uso insustentável global de BECCS e reflorestamento, seguindo métodos desenvolvidos pela Climate Analytics. Para trajetórias nacionais modeladas para o zero líquido, as referências nacionais para 2030 e 2035 são derivadas do cenário “Central” de Jones et al. (2024), do cenário “Net Zero” de Jenkins et al. (2024), do cenário “Deep Decarbonization Pathways” da iniciativa Deep Decarbonization Pathways e do cenário “NDC” do Energy Policy Simulator. Para trajetórias lineares para o zero líquido, as referências nacionais para 2030 e 2035 são derivadas traçando linhas retas desde a linha de base dos EUA em 2005, do nível de emissões de 2022 e da meta da NDC de 2030 para o zero líquido em 2050. Para a modelagem de baixo para cima, com foco na viabilidade, as referências nacionais para 2030 e 2035 são derivadas dos cenários “Alta Ambição” e “Alta Ambição+” de Iyer et al. (2025), do cenário “Ambição Aprimorada” de Zhao et al. (2024) e do cenário “Alta Ambição” de Cui et al. (2024). Devido a diferenças significativas entre essas fontes, os autores normalizaram os dados de todas as fontes com base nos dados do Primeiro Relatório Bienal de Transparência dos EUA, de 2021. Para trajetórias de contribuição justa alinhadas ao limite de 1,5°C, os parâmetros nacionais para 2030 e 2035 são derivados do cenário “Compartilhamento de Esforços” do Climate Action Tracker, bem como de dois cenários do Climate Equity Reference Project, que apresentam uma trajetória de contribuição justa intermediária e outra mais progressiva. Como essas trajetórias não incluem emissões LULUCF, os autores normalizaram os dados de ambas as fontes com base nos dados do Primeiro Relatório Bienal de Transparência dos EUA (excluindo as emissões LULUCF em 2015).3


Este artigo foi publicado originalmente no Insights.