Qual o verdadeiro significado de riqueza? É provável que cada pessoa tenha uma resposta diferente para a pergunta. Muitos economistas também se debruçaram sobre ela, mas dois em especial ganharam o reconhecimento da academia por revelarem ao mundo um novo olhar sobre o crescimento econômico. Nos 50 anos do Nobel de Economia, a Academia Real Sueca de Ciências premiou dois pesquisadores americanos que buscaram respostas para um dos desafios mais básicos do nosso tempo: como fazer com que o crescimento econômico de longo prazo seja sustentável sem comprometer o planeta para as gerações futuras.

A visão macroeconômica de William Nordhaus e Paul Romer se complementam. O primeiro foi pioneiro nos estudos que relacionam mudanças climáticas e seus impactos econômicos ao criar um modelo que descreve essa interação. O segundo comprovou que o conhecimento é uma forma de impulsionar a economia a longo prazo, hipótese até então não comprovada.

O reconhecimento pelas contribuições dos economistas foi anunciado logo depois do lançamento do mais recente relatório do Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que reúne os principais cientistas de clima do mundo. A mensagem do relatório é bastante clara: é necessária uma nova, enorme e imediata transformação para limitar o aquecimento do planeta em 1,5°C. Os países precisam cooperar e agir rápido com ações coordenadas em uma escala ainda sem precedentes. E o trabalho de Nordhaus e Romer são fundamentais para isso.

O custo da economia de carbono

William Nordhaus começou seus estudos, que já incluíam a questão da sustentabilidade, na década de 1970, quando o debate ainda era incipiente. Mais tarde desenvolveu o Dynamic Integrated Climate-Economy Model, modelagem nomeada para propositalmente formar o acrônimo DICE, que significa “dado” em inglês – segundo o pesquisador, um jeito de sugerir que estamos jogando (ou apostando) com o futuro da Terra. A abordagem permanece até hoje como um padrão adotado globalmente, inclusive pelo IPCC.

Mesmo após décadas debruçado sobre o assunto, Nordhaus permanece batalhando para convencer o mundo de que uma taxação global sobre o carbono é a melhor solução para lidar com as mudanças climáticas, já que a atmosfera não tem fronteiras, como ele costuma dizer. É um trabalho árduo, que não avançou na União Europeia nem nos Estados Unidos, embora a ciência do professor de Yale já tenha evoluído do total descrédito até o reconhecimento por colegas economistas, com a inclusão com destaque no relatório do IPCC e agora o Nobel. O trabalho do economista também inspirou o WRI a desenvolver pesquisas para destravar a aplicação da taxação de carbono.

Alguns países como Canadá e Coréia do Sul adaptaram a ideia do professor com algum sucesso, aplicando a solução não como apenas um imposto, mas como um ganho financeiro para os contribuintes. Em entrevista ao New York Times logo após o prêmio, Nordhaus falou sobre o caso da Colúmbia Britânica, no Canadá, para ele um modelo que deu certo: “Você aumenta os preços da eletricidade em US$ 100 por ano, mas o governo devolve um dividendo que reduz os preços da Internet em US$ 100 por ano. Em termos reais, você está aumentando o preço dos bens ligados ao carbono e reduzindo os preços dos bens que não tem uso intensivo de carbono. Esse é um modelo de como algo assim pode funcionar. Tem os efeitos econômicos corretos, mas politicamente não é tão desgastante (quanto um imposto)”.

O valor da economia do conhecimento

Se Nordhaus olhou diretamente para as mudanças climáticas, Paul Romer analisou o desenvolvimento a partir do campo das ideias e da tecnologia. Esse seria o gráfico que inspirou o americano a estudar economia:



Ao se perguntar como um país pode crescer tanto economicamente, Romer decidiu tentar tirar das sombras o valor da inovação. Havia o entendimento de que o conhecimento tinha a capacidade de estimular o desenvolvimento econômico, mas economistas ainda achavam que as ideias eram fruto da inspiração dos cidadãos, não de políticas públicas para estimular a ciência.

Ao entrar nos detalhes, lançou a Teoria do Crescimento Endógeno. A tese mostra que políticas de incentivo à pesquisa e à educação, além de regulações sobre a propriedade intelectual, contribuem com o desenvolvimento de tecnologias e, consequentemente, com a melhoria no mercado. A globalização e as trocas de conhecimento entre países e territórios vieram para dar escala ainda maior a esse crescimento no campo intelectual.

Ciência capaz de transformar

Romer e Nordhaus deram a precisão dos dados ao que até então eram apenas intuições. Durante a coletiva de imprensa logo após a entrega da premiação, Romer refletiu sobre o conhecimento gerado por eles. “As pessoas acham que proteger o ambiente será tão caro e difícil que elas preferem ignorar o problema e fingir que não existe”, disse. “Os humanos são capazes de realizações incríveis desde que concentrem seus esforços.”

Também na coletiva, Nordhaus complementou: "Acho que entendemos a ciência. Acho que entendemos a economia da poluição. Entendemos muito bem os danos. Mas nós não entendemos como reunir os países. Essa é a fronteira de trabalho que precisa ser vencida hoje”.