Esta entrevista faz parte do especial Que Bioeconomia é Essa?


Carina Pimenta se tornou secretária nacional de Bioeconomia a convite da ministra Marina Silva em 2023. a de empresas e mestre em desenvolvimento social, em 2018 Carina cofundou a Conexsus e atuou como diretora executiva da organização até assumir a secretaria ligada ao Ministério do Meio Ambiente. Antes disso, Carina atuou com inovação e empreendedorismo e na gestão do Fundo Vale. Nesta entrevista, Carina dá maiores detalhes sobre a elaboração do Plano Nacional de Bioeconomia e sobre as discussões do G20 sobre bioeconomia.

 

WRI BRASIL: Pra você o que é economia? Qual é o conceito que você defende de economia">

autoridades reunidas no momento da  do decreto que institui a estratégia naiconal de bioeconomia
Momento da do decreto que instituiu a Estratégia Nacional de Bioeconomia (foto: Ricardo Stuckert / PR)

WRI BRASIL: Quais as expectativas para o Plano Nacional de Bioeconomia?

CARINA PIMENTA: O plano tem que ter algumas características. Primeiro, tem que ser muito debatido e dialogado. Acredito que ele ainda vai ar por muitos processos. Tem que ser um plano abrangente dessas diferentes bioeconomias do país e suas especificidades. Também precisa ser um plano regionalizável, que vai dialogar com as diferentes realidades. Se não, nossos compromissos sociais e de redução das desigualdades não vão se materializar. Ele deve ter setores, prioridades, mas exige muito diálogo para construir. Nossa visão é que ele seja a nossa linha de base, o nosso centro, e que seja também um documento orgânico, porque a discussão precisa amadurecer, precisa se qualificar, e acho que é parte desse processo de aprendizado enquanto país.

WRI BRASIL: Neste ano, o G20 tem uma iniciativa de bioeconomia. Como tem sido a experiência de representar o país nesse fórum e levar a visão brasileira de bioeconomia">

Carina Pimenta ao lado de João Paulo Capobianco, secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, Jorge Cajuru, senador, e Ana Toni, secretária nacional de Mudança do Clima em audiência na Comissão de Meio Ambiene do Senado Federal
Carina Pimenta ao lado de João Paulo Capobianco, secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, Jorge Cajuru, senador, e Ana Toni, secretária nacional de Mudança do Clima em audiência na Comissão de Meio Ambiene do Senado Federal

WRI BRASIL: Você pode dar um exemplo concreto de como essa cooperação pode ocorrer no futuro?

CARINA PIMENTA: O fato de o Brasil ter hoje uma estratégia publicada é o primeiro o para isso. O Brasil apresenta para outros países, para o sistema financeiro, os contornos dessa bioeconomia. É óbvio que a cooperação entre países pode surgir de várias formas. Por exemplo, nós estamos com um termo de cooperação com o governo britânico no tema da bioeconomia, houve um anúncio muito importante do presidente Lula e do presidente Macron sobre investimento em bioeconomia para a Amazônia. Os países da região amazônica, no âmbito da Cúpula da Amazônia, discutiram muito a importância de trabalhar juntos numa economia da floresta que pode ser traduzida na bioeconomia. 

Existem muitos investimentos sendo feitos pelos organismos multilaterais nesse tema. Porém, quando a gente traduz princípios internacionais, isso ajuda a modelar quais são esses investimentos. 

WRI BRASIL: Nesta questão dos princípios da bioeconomia, como entra a questão climática?

CARINA PIMENTA: A bioeconomia pode ser uma estratégia de descarbonização. Temos estudos aqui no Brasil que mostram que investimentos em uma bioeconomia avançada em biomateriais, bioquímicos e bioenergia tem essa capacidade. O Brasil já conta com uma matriz de baixa emissões no campo energético. Quando a gente olha para os princípios discutidos no G20, estão completamente ligados aos princípios do Acordo de Paris. A estratégia europeia se desenvolveu muito dessa forma de bioeconomia circular, uma bioeconomia de descarbonização. Esse contorno que a gente tá fazendo atende ao Acordo de Paris e também estamos olhando para a convenção de biodiversidade, porque são duas das três crises globais que temos. 

WRI BRASIL: Há preocupações sobre a inclusão de alguns setores na bioeconomia. Um exemplo são os bioecombustíveis, por serem produzidos a partir de uma monocultura como a cana. Como a senhora vê isso? 

CARINA PIMENTA: Primeiro, os biocombustíveis fazem parte de uma visão de bioeconomia. O decreto não cita nenhum setor. Ele fala de segurança alimentar, de segurança hídrica, de segurança energética. Então, o tema de biocombustíveis é parte da agenda de bioeconomia. O que nós temos que discutir é como a bioeconomia ajuda esse setor que já existe e já faz parte de uma estratégia de transição energética do país.

O que a gente tem que ver é como a bioeconomia pode impulsionar para que ele seja mais positivo em natureza, mais positivo em biodiversidade. Tem formas de pensar que a gente precisa discutir na construção do plano. Eu não excluo nenhum segmento da bioeconomia, desde que a gente consiga impulsioná-lo em linha com o que a gente prioriza como diretrizes, como princípios norteadores. Não precisamos que toda economia seja parte da bioeconomia, mas a gente vai trabalhar dentro desses conceitos de positivo em natureza, de baixas emissões. 

WRI BRASIL: E qual o futuro da bioeconomia?

CARINA PIMENTA: Eu acho que a gente está vivendo um momento de transformação nas discussões sobre a nossa economia, sobre a nossa relação entre sociedade e meio ambiente. Bioeconomia é um caminho que se mostra bastante promissor e bastante decisivo dessa transformação. Isso não só no Brasil como no mundo. A nossa capacidade de conseguir construir uma economia baseada em natureza é que vai determinar o sucesso da bioeconomia ou não, porque senão será mais uma economia. A visão que a gente busca é que ela realmente seja um caminho de ressignificar essa relação entre meio ambiente e economia. Há muitas convergências e é aí que a gente vai se apoiar. A bioeconomia pode sim significar um resultado enorme, não apenas econômico, mas sobretudo sociocultural. O Brasil, um país florestal, que é uma liderança na agenda verde, tem a capacidade e a possibilidade de conseguir propor uma agenda de desenvolvimento que é sustentável não só na palavra, mas que constrói caminhos concretos para isso acontecer. A bioeconomia pra mim é um deles. A gente enxerga que uma nova forma de revolução, de transformação, vem com isso e o Brasil tem todo potencial para liderar isso. Não é uma coisa de um líder. Porém, se um conjunto de lideranças apostarem nessa transformação é possível que a gente construa uma economia de referência para a sustentabilidade, para as nossas florestas, nosso capital natural. Isso é o que buscamos.