
Carina Pimenta, secretária nacional de Bioeconomia: “A bioeconomia precisa ser não apenas sustentável, mas também inclusiva”
Esta entrevista faz parte do especial Que Bioeconomia é Essa?
Carina Pimenta se tornou secretária nacional de Bioeconomia a convite da ministra Marina Silva em 2023. a de empresas e mestre em desenvolvimento social, em 2018 Carina cofundou a Conexsus e atuou como diretora executiva da organização até assumir a secretaria ligada ao Ministério do Meio Ambiente. Antes disso, Carina atuou com inovação e empreendedorismo e na gestão do Fundo Vale. Nesta entrevista, Carina dá maiores detalhes sobre a elaboração do Plano Nacional de Bioeconomia e sobre as discussões do G20 sobre bioeconomia.
WRI BRASIL: Pra você o que é economia? Qual é o conceito que você defende de economia">
WRI BRASIL: Quais as expectativas para o Plano Nacional de Bioeconomia? CARINA PIMENTA: O plano tem que ter algumas características. Primeiro, tem que ser muito debatido e dialogado. Acredito que ele ainda vai ar por muitos processos. Tem que ser um plano abrangente dessas diferentes bioeconomias do país e suas especificidades. Também precisa ser um plano regionalizável, que vai dialogar com as diferentes realidades. Se não, nossos compromissos sociais e de redução das desigualdades não vão se materializar. Ele deve ter setores, prioridades, mas exige muito diálogo para construir. Nossa visão é que ele seja a nossa linha de base, o nosso centro, e que seja também um documento orgânico, porque a discussão precisa amadurecer, precisa se qualificar, e acho que é parte desse processo de aprendizado enquanto país. WRI BRASIL: Neste ano, o G20 tem uma iniciativa de bioeconomia. Como tem sido a experiência de representar o país nesse fórum e levar a visão brasileira de bioeconomia">
WRI BRASIL: Você pode dar um exemplo concreto de como essa cooperação pode ocorrer no futuro? CARINA PIMENTA: O fato de o Brasil ter hoje uma estratégia publicada é o primeiro o para isso. O Brasil apresenta para outros países, para o sistema financeiro, os contornos dessa bioeconomia. É óbvio que a cooperação entre países pode surgir de várias formas. Por exemplo, nós estamos com um termo de cooperação com o governo britânico no tema da bioeconomia, houve um anúncio muito importante do presidente Lula e do presidente Macron sobre investimento em bioeconomia para a Amazônia. Os países da região amazônica, no âmbito da Cúpula da Amazônia, discutiram muito a importância de trabalhar juntos numa economia da floresta que pode ser traduzida na bioeconomia. Existem muitos investimentos sendo feitos pelos organismos multilaterais nesse tema. Porém, quando a gente traduz princípios internacionais, isso ajuda a modelar quais são esses investimentos. WRI BRASIL: Nesta questão dos princípios da bioeconomia, como entra a questão climática? CARINA PIMENTA: A bioeconomia pode ser uma estratégia de descarbonização. Temos estudos aqui no Brasil que mostram que investimentos em uma bioeconomia avançada em biomateriais, bioquímicos e bioenergia tem essa capacidade. O Brasil já conta com uma matriz de baixa emissões no campo energético. Quando a gente olha para os princípios discutidos no G20, estão completamente ligados aos princípios do Acordo de Paris. A estratégia europeia se desenvolveu muito dessa forma de bioeconomia circular, uma bioeconomia de descarbonização. Esse contorno que a gente tá fazendo atende ao Acordo de Paris e também estamos olhando para a convenção de biodiversidade, porque são duas das três crises globais que temos. WRI BRASIL: Há preocupações sobre a inclusão de alguns setores na bioeconomia. Um exemplo são os bioecombustíveis, por serem produzidos a partir de uma monocultura como a cana. Como a senhora vê isso? CARINA PIMENTA: Primeiro, os biocombustíveis fazem parte de uma visão de bioeconomia. O decreto não cita nenhum setor. Ele fala de segurança alimentar, de segurança hídrica, de segurança energética. Então, o tema de biocombustíveis é parte da agenda de bioeconomia. O que nós temos que discutir é como a bioeconomia ajuda esse setor que já existe e já faz parte de uma estratégia de transição energética do país. O que a gente tem que ver é como a bioeconomia pode impulsionar para que ele seja mais positivo em natureza, mais positivo em biodiversidade. Tem formas de pensar que a gente precisa discutir na construção do plano. Eu não excluo nenhum segmento da bioeconomia, desde que a gente consiga impulsioná-lo em linha com o que a gente prioriza como diretrizes, como princípios norteadores. Não precisamos que toda economia seja parte da bioeconomia, mas a gente vai trabalhar dentro desses conceitos de positivo em natureza, de baixas emissões. WRI BRASIL: E qual o futuro da bioeconomia? CARINA PIMENTA: Eu acho que a gente está vivendo um momento de transformação nas discussões sobre a nossa economia, sobre a nossa relação entre sociedade e meio ambiente. Bioeconomia é um caminho que se mostra bastante promissor e bastante decisivo dessa transformação. Isso não só no Brasil como no mundo. A nossa capacidade de conseguir construir uma economia baseada em natureza é que vai determinar o sucesso da bioeconomia ou não, porque senão será mais uma economia. A visão que a gente busca é que ela realmente seja um caminho de ressignificar essa relação entre meio ambiente e economia. Há muitas convergências e é aí que a gente vai se apoiar. A bioeconomia pode sim significar um resultado enorme, não apenas econômico, mas sobretudo sociocultural. O Brasil, um país florestal, que é uma liderança na agenda verde, tem a capacidade e a possibilidade de conseguir propor uma agenda de desenvolvimento que é sustentável não só na palavra, mas que constrói caminhos concretos para isso acontecer. A bioeconomia pra mim é um deles. A gente enxerga que uma nova forma de revolução, de transformação, vem com isso e o Brasil tem todo potencial para liderar isso. Não é uma coisa de um líder. Porém, se um conjunto de lideranças apostarem nessa transformação é possível que a gente construa uma economia de referência para a sustentabilidade, para as nossas florestas, nosso capital natural. Isso é o que buscamos.