
Incêndios levam a recorde de perda de floresta tropical em 2024
Os trópicos perderam um recorde de 6,7 milhões de hectares de floresta tropical primária em 2024, uma área quase do tamanho do Panamá. Impulsionado em grande parte por incêndios massivos, o resultado é o maior já registrado em qualquer ano das últimas duas décadas.
De acordo com novos dados do laboratório GLAD da Universidade de Maryland e disponíveis na plataforma Global Forest Watch do WRI, a floresta tropical primária desapareceu a uma taxa de 18 campos de futebol por minuto em 2024, quase o dobro de 2023. Esses são alguns dos ecossistemas florestais mais importantes, essenciais para subsistência, armazenamento de carbono, fornecimento de água, biodiversidade e muito mais. Sua perda apenas em 2024 causou 3,1 gigatoneladas (Gt) de emissões de gases de efeito estufa, o equivalente a um pouco mais do que as emissões anuais de CO2 do uso de combustíveis fósseis da Índia.
A perda de floresta primária tropical aumentou 80% de 2023 a 2024
Incêndios queimaram 5 vezes mais floresta tropical primária em 2024 do que em 2023. Embora os incêndios ocorram naturalmente em alguns ecossistemas, em florestas tropicais eles são quase inteiramente causados pelo ser humano. Muitas vezes começam com o uso do fogo na agricultura e se espalham fora de controle em florestas próximas. 2024 foi o ano mais quente registrado, com condições quentes e secas amplamente causadas pela mudança climática e o El Niño levando a incêndios maiores e mais generalizados. A América Latina foi particularmente atingida, revertendo a redução na perda de florestas primárias observada no Brasil e na Colômbia em 2023.
Embora as florestas possam se recuperar após incêndios, os efeitos combinados da mudança climática e conversão de florestas para outros usos da terra, como a agricultura, podem dificultar essa recuperação e aumentar o risco de incêndios futuros.
A perda de floresta primária não relacionada a incêndios também aumentou em 14% entre 2023 e 2024, impulsionada principalmente pela conversão de florestas em agricultura. Nos últimos 24 anos, o desmatamento florestal para agricultura permanente tem sido o maior fator da perda de florestas tropicais primárias, mas em 2024 o incêndio florestal se tornou a principal causa, responsável por quase metade da perda.
Incêndios florestais foram a principal causa da perda de florestas tropicais primárias em 2024
E a perda não estava contida nos trópicos: a perda de cobertura arbórea em todo o mundo também atingiu um recorde, com regiões boreais como Canadá e Rússia ando por incêndios extremos.
Embora tenha havido alguns pontos positivos em 2024 — Indonésia e Malásia registraram menos perda de floresta primária do que em 2023, com taxas significativamente inferiores às de uma década atrás — a tendência geral segue na direção errada. Líderes de mais de 140 países am a Declaração dos Líderes em Glasgow em 2021, prometendo interromper e reverter a perda florestal até 2030. Mas estamos alarmantemente fora do esperado para cumprir esse compromisso: Dos 20 países com maior área de florestas primárias, 17 perdem mais florestas hoje do que quando o acordo foi assinado.
Os 10 principais países em perda de florestas tropicais primárias mudaram de 2023 para 2024, com a Bolívia subindo para o segundo lugar

Claramente, mais esforços precisam ser feitos para proteger as florestas do mundo pelo bem das pessoas, da natureza e do clima. A seguir, um olhar aprofundado sobre algumas das principais tendências de perda florestal em 2024:
Perda de floresta primária explode na Amazônia brasileira devido a incêndios
O Brasil registrou um grande aumento na perda de florestas primárias em 2024, impulsionado em grande parte por uma das piores temporadas de incêndios já registradas.
Perda de floresta primária no Brasil aumentou em 2024, em grande parte devido a incêndios
No ano ado, o Brasil ou por sua seca mais intensa e generalizada em sete décadas, que, combinada com altas temperaturas, fez com que os incêndios se espalhassem em uma escala sem precedentes por todo o país.
Além de incêndios, a perda de floresta primária foi causada principalmente pelo desmatamento de florestas para cultivo de soja e a pecuária.
O Brasil tem mais florestas primárias tropicais do que qualquer outro país do mundo e continua sendo o maior contribuinte para a perda florestal, representando 42% de toda a perda de florestas tropicais primárias nos trópicos. As taxas de perda não relacionada a incêndios também aumentaram 13% em 2024 em comparação com 2023, mas ainda estavam abaixo dos picos no início dos anos 2000 e durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro. (Compare os dados da UMD com o monitoramento oficial de desmatamento do Brasil.)
As tendências variaram em diferentes biomas:
Determinados biomas do Brasil foram afetados pelo incêndio em 2024, com a Amazônia atingindo o maior nível desde 2016
- O bioma amazônico teve a maior perda desde o recorde em 2016, saltando 110% de 2023 a 2024. 60% foi devido a incêndios. A expansão agrícola é uma grande causa, com a grande maioria do desmatamento recente considerada ilegal.
- O Pantanal, pântano tropical do Brasil, teve o maior percentual de perda de cobertura arbórea de qualquer bioma, perdendo 1,6% de sua cobertura arbórea (mais do que o dobro da taxa de 0,83% para todo o Brasil). 57% foi devido a incêndios. Pesquisas mostram que incêndios no Pantanal agora estão 40% mais intensos do que estariam sem as mudanças climáticas.
- A perda de cobertura arbórea diminuiu em outros biomas, com exceção da Mata Atlântica. Nas savanas do Cerrado brasileiro, toda a perda de cobertura arbórea diminuiu 14% de 2023 a 2024, embora isso esteja dentro das flutuações anuais normais.
Embora a perda de florestas primárias tenha atingido níveis baixos em 2023, com o recém-eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva introduzindo políticas pró-ambientais — incluindo a revogação de medidas antiambientais, reconhecendo novos territórios indígenas e reforçando os esforços de aplicação da lei — esse progresso é ameaçado pela expansão agropecuária. Em nível estadual, tanto Mato Grosso quanto Rondônia propam ou aprovaram a legislação para enfraquecer moratórias históricas destinadas a reduzir o desmatamento. Essas leis podem ter efeitos negativos, uma vez que o próprio desmatamento induz mudanças nas chuvas que podem reduzir a produção agrícola, exigindo ainda mais terras agrícolas.
As políticas de conservação e a aplicação são fundamentais, bem como mais investimentos em programas nacionais de prevenção de incêndios, como o Prevfogo, que treina as comunidades locais para responder a incêndios e praticar a gestão sustentável de terras sem o uso do fogo.
Incêndios devastam florestas bolivianas
A Bolívia registrou um aumento impressionante de 200% na perda de floresta primária em 2024, após um ano recorde de perda de cobertura arbórea em 2023.
A perda de floresta primária na Bolívia registrou um aumento sem precedentes em 2024
Pela primeira vez desde o início dos registros, a Bolívia ficou em segundo lugar — atrás apenas do Brasil — na perda de florestas tropicais primárias, superando a República Democrática do Congo, apesar de ter apenas 40% de sua área florestal.
Os pontos críticos de perda de floresta primária na Bolívia entre 2002 e 2024 mostram a expansão das frentes de desmatamento por todo o país

A maioria dos incêndios nas florestas tropicais do país é provocada para limpar terras para a agricultura em escala industrial, especialmente para a pecuária (responsável por 57% do desmatamento na Bolívia) e para o cultivo de monoculturas como soja, cana-de-açúcar, milho e sorgo. Embora o uso do fogo possa ser uma ferramenta tradicional de manejo da terra, as condições cada vez mais quentes e secas têm transformado muitas dessas queimas em incêndios descontrolados, resultando em temporadas de fogo mais longas e destrutivas.
A Bolívia ou por uma das secas mais graves já registradas em 2024; as estatísticas do governo mostram que quase 12% do país foi consumido pelo fogo, incluindo grandes áreas florestais. Sem sistemas de alerta antecipado ou recursos adequados de combate a incêndios, as comunidades rurais enfrentaram o pior das chamas, enquanto os moradores urbanos sofreram com a fumaça dos incêndios florestais.
As políticas governamentais que colocam em segundo plano a prevenção e a resposta a incêndios e, em vez disso, apoiam a expansão do agronegócio também contribuíram para os incêndios. No início de 2024, o governo aumentou as cotas de exportação de soja e carne bovina, aumentando os incentivos para a expansão agrícola. E não se espera que o desenvolvimento agrícola desacelere: Após a temporada de incêndios de 2024, o governo eliminou todos os impostos de importação sobre agroquímicos e máquinas e introduziu uma moratória de empréstimo de dois a cinco anos para indivíduos e empresas afetados por incêndios florestais.
No entanto, houve um ponto positivo: Charagua Iyambae, um território indígena recém-estabelecido no sul da Bolívia, conseguiu manter os incêndios longe. Seus investimentos em sistemas de alerta precoce e aplicação de políticas de uso da terra ajudaram a evitar a propagação de queimadas pelo segundo ano consecutivo — uma façanha notável.
A área protegida de Charagua Iyambae, na Bolívia, conseguiu conter os incêndios em 2024, um testemunho dos investimentos em prevenção de incêndio liderados pelos povos indígenas

Em outros lugares da América Latina, a perda de floresta primária aumentou com os incêndios
Muitos outros países da América Latina também viram grandes picos na perda de cobertura arbórea devido a incêndios em 2024, alimentados pela seca generalizada na região. Incêndios causaram pelo menos 60% da perda de floresta primária em Belize, Guatemala, Guiana e México. Esses incêndios tiveram impactos devastadores nas comunidades locais, incluindo a má qualidade do ar e a perda de vidas e casas. O aumento da perda de florestas primárias no México e na Nicarágua, impulsionado em parte pelos incêndios, os colocou entre os 10 países com maior perda de florestas tropicais primárias em 2024.
A expansão agrícola também impulsionou a perda de florestas primárias em toda a região.
Muitos municípios latino-americanos registraram alta perda de floresta primária em 2024, em grande parte devido a incêndios
- A Guatemala perdeu 2,7% de sua floresta primária em 2024, com incêndios generalizados que levaram o presidente a emitir uma declaração de desastre natural. No norte do país, a criação ilegal de gado e a expansão de assentamentos informais — às vezes vinculados com o crime organizado — alimentaram a perda florestal, inclusive no Parque Nacional Sierra del Lacandón.
- A perda de floresta tropical primária do México quase dobrou entre 2023 e 2024, principalmente devido a incêndios. A Comissão Florestal Nacional do México, CONAFOR, registrou mais de 8 mil incêndios e a maior área queimada já registrada. A agricultura comercial, incluindo gado e soja, também está substituindo as florestas primárias. Metade da perda de florestas primárias do México em 2024 ocorreu em Campeche e Quintana Roo, onde a presença de menonitas —, que estabeleceram sistemas agrícolas intensivos de monocultura — tem crescido.
- A Nicarágua teve a maior porcentagem de perda de floresta primária de todos os países em 2024, com 4,7%. Grandes incêndios se espalharam por áreas protegidas e territórios indígenas na costa caribenha, provavelmente ligados à expansão agrícola. Quase 78% da perda ocorreu na Reserva de Biosfera Bosawás, que perdeu 74 mil hectares de floresta primária, 40% dos quais devido a incêndios. Os territórios indígenas foram ameaçados pelo desmatamento causado pela invasão de fazendas de gado, mineração e extração de madeira, muitas vezes acompanhadas de violência. Embora a agricultura seja a principal causa da perda de floresta primária, a expansão da mineração está ocorrendo em algumas regiões.
- O Peru apresentou um aumento de 135% na perda de florestas tropicais primárias devido a incêndios entre 2023 e 2024. As queimadas para limpar terras para a agricultura estiveram entre as principais causas. A Defensoria Pública argumentou que modificações recentes na lei florestal tiveram um papel nesse processo, pois isentam os proprietários de terras privadas da exigência de análises e autorizações antes de alterar o uso do solo de suas propriedades, legitimando desmatamentos ilegais anteriores para fins agrícolas e facilitando novos casos de desmatamento ilegal.
- A Guiana, um país que historicamente teve taxas relativamente baixas de perda de florestas primárias, experimentou um aumento de quatro vezes na perda de florestas primárias tropicais entre 2023 e 2024, 60% dela devido a incêndios. A mineração ilegal e não regulamentada também desempenha um papel desproporcional na condução da perda florestal, invadindo territórios indígenas e levando a um aumento nos casos de malária. A mineração foi responsável por quase 35% da perda de floresta primária na Guiana nos últimos 24 anos. Essas perdas ocorrem apesar da iniciativa da Guiana de monetizar seu status como país de “Alta Cobertura Florestal e Baixo Desmatamento” (HFLD) para gerar receita por meio da conservação florestal.
Os pontos críticos indicam as áreas da América Latina que foram recentemente afetadas por incêndios em 2024

A Colômbia retorna a taxas mais altas de perda de floresta primária após uma queda em 2023
A perda de florestas primárias aumentou quase 50% na Colômbia entre 2023 e 2024.
A perda de floresta primária na Colômbia aumentou em 2024 após cair em 2023
Diferentemente de muitos outros países da América Latina, os incêndios não foram uma das principais causas. A mudança no governo em 2022 e seu foco na conservação florestal levaram a uma grande queda na perda de florestas tropicais primárias em 2023. Desde então, desafios como a presença de grupos ilegais e a reassentamento de comunidades anteriormente sem terra levaram a mais instabilidade em áreas remotas e podem ter contribuído para o aumento da perda florestal.
A suspensão das conversas sobre a paz e o aumento da violência em áreas remotas também aumentaram a mineração ilegal e a produção de coca e estimularam a perda de florestas, afetando as comunidades indígenas em particular. Em outros lugares da Colômbia, a conversão de florestas para a produção de gado e plantações de palmeiras continuam sendo as principais causas da perda de florestas primárias.
Para que a perda florestal caia novamente, o governo deve manter o acordo de paz e desenvolver meios de subsistência livres de desmatamento para as comunidades locais.
Agricultura de pequeno porte, produção de carvão vegetal e a extração de madeira impulsionam a perda de florestas primárias na bacia do Congo
A perda da vasta floresta tropical primária da Bacia do Congo continuou em 2024, com a República Democrática do Congo (RDC) e a República do Congo tendo sua maior perda registrada.
A República Democrática do Congo e a República do Congo tiveram sua maior perda de floresta primária registrada em 2024
As causas de perda florestal na região incluem incêndios, remoção de madeira para produzir carvão vegetal (a forma dominante de energia), desmatamento florestal para agricultura de pequeno portee cultivo itinerante — uma forma tradicional de cultivo de subsistência onde as florestas são limpas para plantio temporário e, em seguida, deixadas em pousio por um período enquanto as florestas crescem novamente. No entanto, como as culturas comerciais são introduzidas em algumas partes da Bacia do Congo, a escala de desmatamento está aumentando e os períodos de pousio estão mais curtos. Nessas regiões, as florestas não estão crescendo novamente e o cultivo está se tornando mais permanente.
O cultivo itinerante é a principal causa da perda florestal na Bacia do Congo

As soluções para essas causas são desafiadoras, pois muitas comunidades não têm recursos alternativos. A República Democrática do Congo (RDC) é uma das cinco nações mais pobres do mundo, com muitas pessoas confiando na floresta para obter alimentos e energia. Com o crescimento da população, é improvável que essa pressão sobre as florestas e seus recursos diminua.
Outro fator na RDC é que as pessoas deslocadas por conflitos em andamento são forçadas a desmatar terras para sua sobrevivência. O conflito na RDC envolvendo grupos rebeldes que disputam o controle dos vastos recursos naturais do país também levou muitas cidades e indústrias na parte oriental do país a serem assumidas pelos rebeldes. Isso inclui cadeias de suprimentos de carvão vegetal e minas, criando instabilidade e deslocamento que impulsionam a perda de florestas.
Na República do Congo, um país de “Alta Floresta, Baixo Desmatamento” (High Forest Low Deforestation, HFLD), a perda em florestas primárias aumentou 150% de 2023 a 2024, quase o dobro da quantidade de qualquer ano anterior registrado. Incêndios foram responsáveis por 45% da perda devido a condições mais secas e quentes do que o normal.
O Gabão, a Guiné Equatorial e a República Centro-Africana (RCA) conseguiram manter a perda florestal estável no geral, mesmo em meio a uma grande mudança política no Gabão e conflitos implacáveis na RCA. Enquanto isso, Camarões, assim como a RDC e a República do Congo, têm registrado um aumento geral na perda de florestas nos últimos anos.
Gabão, República Centro-Africana e Guiné Equatorial registraram perda de floresta estável nos últimos anos
Com muitas causas de perda florestal ligadas a meios de subsistência locais ou pessoas deslocadas, precisamos de uma abordagem mais transformadora que permita que as comunidades liderem os esforços de proteção florestal, ao mesmo tempo em que colocam o bem-estar comunitário no centro de todos os programas florestais. Esforços para proteger florestas na região devem aproveitar todo o potencial para que países e comunidades recebam pagamentos por serviços ecossistêmicos pela proteção de florestas, inclusive por meio da geração de créditos de carbono de alta integridade.
Na RDC, o Corredor Verde Kivu-Kinshasa apresenta uma oportunidade de proteger mais de 540 mil quilômetros quadrados de florestas, promovendo o desenvolvimento econômico sustentável para os 31 milhões de pessoas que vivem lá. No entanto, essa área registrou grandes quantidades de perda florestal em 2024. Garantir que esses projetos ecológicos continuem sendo uma prioridade enquanto a RDC enfrenta conflitos será um desafio.
Redução da perda de floresta primária na Indonésia
A Indonésia apresentou uma diminuição de 11% na perda de floresta primária de 2023 a 2024. Os incêndios foram moderados e a perda permaneceu bem abaixo do pico de meados de 2010.
A perda de florestas primárias na Indonésia diminuiu em 2024, em grande parte devido aos esforços de proteção florestal e manejo de incêndios
A definição de floresta primária da UMD é diferente da área florestal primária legalmente definida da Indonésia. Grande parte da perda de floresta primária da UMD na Indonésia está dentro de áreas que a Indonésia classifica como floresta secundária e outras coberturas de terra. Saiba mais aqui.
2024 foi o último ano da istração do presidente Joko Widodo, que priorizou a proteção florestal, restauração e supressão de incêndios. Esses esforços, juntamente com as chuvas no final da temporada e a prevenção de incêndios das comunidades locais e agronegócios, ajudaram a manter as taxas de incêndio baixas, apesar das condições de seca em muitos lugares. Os esforços do setor privado para reduzir o desmatamento ligado a commodities também contribuíram.
A maior parte da perda de floresta primária ocorreu em áreas adjacentes às plantações existentes de madeira/fibra de madeira e dendê, agricultura em pequena escala e áreas de mineração, ou foi devido à expansão da extração de madeira. As taxas de perda aumentaram ligeiramente em várias províncias, incluindo em Sumatra (Aceh, Bengkulu e Sumatra do Sul) e Papua. A perda de floresta primária avançou sobre algumas áreas protegidas, incluindo perdas contínuas nos parques de Kerinci Seblat, Tesso Nilo e no ecossistema de Le na ilha de Sumatra.
A perda de floresta primária cai em outros países do Sudeste Asiático, mas os desafios persistem
A perda de floresta primária também diminuiu em muitos outros países do Sudeste Asiático. Por exemplo, a Malásia experimentou uma redução de 13% na perda de florestas primárias em comparação com 2023, saindo da lista dos 10 maiores pela primeira vez. Embora essa taxa consistentemente baixa seja uma boa notícia, a Malásia já perdeu quase um quinto de suas florestas primárias desde 2001 e quase um terço desde a década de 1970. Os esforços do governo para limitar as áreas de plantação e endurecer as leis florestais estão agora trabalhando em conjunto com os compromissos corporativos para reduzir o desmatamento.
Apesar de uma redução de 15% na perda de floresta primária no Laos em 2024, a perda total ainda foi a segunda maior já registrada. A perda de florestas primárias no Laos é impulsionada principalmente pela expansão agrícola, alimentada em parte pelo investimento da China, o maior importador de produtos agrícolas do país. A situação econômica ruim do Laos também pode estar contribuindo, já que o aumento do custo das necessidades básicas levou os agricultores a abrir novas áreas agrícolas em meio às florestas.
Incêndios florestais também geram altas taxas de perda de cobertura arbórea fora dos trópicos
A perda global de cobertura arbórea foi a maior já registrada em 2024,* aumentando em 5% em comparação com 2023 e atingindo 30 milhões de hectares. 2024 foi a primeira vez desde o início dos registros que grandes incêndios ocorreram tanto nos trópicos quanto nas florestas boreais, resultando em 4,1 Gt de emissões de gases de efeito estufa devido a incêndios em todo o mundo, o equivalente a mais de 4 vezes as emissões de viagens aéreas em 2023.
Fora dos trópicos, os incêndios impulsionaram a maior parte do aumento da perda de cobertura arbórea e foram especialmente notáveis no Canadá e na Rússia.
Fora dos trópicos, Canadá e Rússia viram uma alta perda de cobertura arbórea causada por incêndios em 2024
Embora os incêndios façam parte da dinâmica florestal natural em regiões boreais e a perda de cobertura arbórea desses incêndios seja normalmente temporária, os incêndios têm sido maiores, mais intensos e mais duradouros nos últimos anos. Pesquisas mostram que florestas boreais são cada vez mais suscetíveis à seca e incêndios devido às mudanças climáticas, criando um ciclo de retroalimentação com a intensificação dos incêndios e o aumento das emissões de carbono.
Embora o Canadá não tenha visto tanta devastação em 2024 quanto em sua temporada recorde de incêndios de 2023, ele sofreu o dobro da quantidade de perda causada por incêndio do que nos anos anteriores. Incêndios ocorreram principalmente no oeste do Canadá.
A Rússia sofreu um grande aumento na perda de cobertura arbórea em 2024, quase inteiramente devido a incêndios no leste da Sibéria. O clima mais quente e seco relacionado às mudanças climáticas levou a condições propensas ao fogo, turfeiras mais secas e gelo permanente do subsolo derretido. A vasta região de turfeiras da Sibéria — a maior do mundo — armazena enormes quantidades de carbono, que são liberadas na atmosfera quando a turfa seca e é queimada.
2024 é um alerta para o mundo
Não podemos ignorar o alerta de 2024. Para interromper e reverter a perda florestal até 2030, a perda florestal anual precisará cair 20% a cada ano em relação aos níveis de 2024. Serão necessárias medidas em muitas frentes para fazer com que as tendências se movam na direção certa:
- Liderança política sustentada: Declínios consistentes na perda florestal na escala necessária para atingir as metas de 2030 são difíceis de alcançar. O progresso muitas vezes está ligado a mudanças na liderança política, com conquistas que podem ser facilmente revertidas quando as prioridades mudam. Para serem bem-sucedidos, os países precisam de compromissos de longo prazo e de istração cruzada apoiados por instituições fortes e políticas estáveis para que a proteção florestal dure mais do que os ciclos eleitorais e as agendas políticas. Os signatários dos compromissos florestais também devem ser responsabilizados pelo acompanhamento do progresso em direção às metas com dados transparentes e marcos intermediários claros.
- Desacoplando a produção de commodities da perda florestal: A terra é finita. À medida que a população global atingir 8,5 bilhões até 2030, a demanda por alimentos, energia, habitação e infraestrutura aumentará. Isso coloca uma pressão crescente sobre a terra, incluindo florestas. As empresas nos setores de commodities de risco florestal precisam acelerar o progresso em direção às suas próprias metas de cadeias de suprimento livres de desmatamento, assim como às metas do setor como um todo. Os reguladores nos países produtores e nos países de mercado devem apoiar esses esforços, aplicando leis de proteção florestal e exigindo que as empresas garantam que não estão adquirindo commodities de áreas recentemente desmatadas. Por exemplo, o Regulamento contra Desmatamento da UE, que deve entrar em operação em 2026, restringe a importação de determinadas commodities produzidas em terras desmatadas após 2020.
- Forte prevenção e resposta a incêndios: É provável que as condições quentes e secas que levam a incêndios piorem. É necessário investir em prevenção de incêndios, sistemas de alerta precoce, equipamentos de resposta rápida, medidas de fiscalização, educação sobre preparo agrícola sem fogo e queimadas controladas para reduzir a inflamabilidade, a fim de combater os incêndios futuros.
- Combatendo os crimes contra a natureza: A extração ilegal de madeira, mineração e conversão agrícola associadas à apropriação de terra são as principais causas da perda florestal. Estruturas jurídicas e aplicação mais fortes, redução da corrupção, capacitação de grupos da sociedade civil e implantação de tecnologias inovadoras para detectar e impedir crimes são fundamentais para lidar com isso.
- Mais financiamento para a proteção e restauração florestal: Como parte de esforços mais amplos para fechar as lacunas de financiamento para o clima e a natureza, isso pode incluir: reduzir subsídios e investimentos que impulsionem o desmatamento; aumentar o fluxo de financiamento de acordo com as promessas florestais existentes, como a Global Forest Finance Pledge, a Congo Basin Pledge, e a Indigenous Peoples and Local Communities Forest Tenure Pledge; instrumentos inovadores, como o proposto Tropical Forest Finance Facility, que visa arrecadar US$ 250 bilhões para serem utilizados por países tropicais que atinjam metas para limitar o desmatamento; maior uso corporativo de créditos de carbono baseados em florestas de alta integridade para complementar — e não substituir — o ritmo das reduções de emissões dentro da própria cadeia de valor de uma corporação; os acordos de troca de dívida por conservação da natureza para países que realizam iniciativas de conservação florestal.
- Avanço das economias florestais lideradas pela comunidade: Essas são economias viáveis intrinsecamente ligadas à conservação e restauração florestal, envolvendo empresas que são gerenciadas por (e beneficiam) povos indígenas e comunidades locais. Elas permitem o desenvolvimento socioeconômico sustentado dentro e ao redor de florestas permanentes, como uma alternativa às atividades econômicas de negócios habituais que são altamente extrativas ou dependem da conversão de florestas em fazendas. Essas economias são estabelecidas por meio de políticas de capacitação, desenvolvimento setorial, financiamento e capacitação coerente. Por exemplo, a Rede Pan-Amazônica de Bioeconomia está focada na criação de uma economia florestal que prioriza a conservação das florestas em pé e o bem-estar de sua população local.
- Alinhando os esforços para reduzir o desmatamento com os objetivos de Biodiversidade: A meta 3 do Quadro de Biodiversidade Global Kunming-Montreal visa conservar 30% das terras até 2030. No entanto, muitas florestas primárias estão fora das áreas protegidas, portanto, garantir que elas estejam dentro das áreas de conservação designadas sob esta meta apoiará os esforços para interromper o desmatamento, bem como apoiar as metas de biodiversidade.
Em última análise, o progresso exigirá soluções personalizadas localmente, maior vontade política dos países com florestas e daqueles que importam commodities deles, e adaptação aos crescentes riscos das mudanças climáticas. Sem essa gama de soluções, as florestas — e os muitos benefícios que elas oferecem — continuarão a desaparecer.
* Para a perda global de cobertura arbórea em todos os níveis de densidade de cobertura arbórea. Relativamente à cobertura arbórea com mais de 30% de densidade de copa, 2016 e 2024 registaram níveis muito semelhantes, totalizando ambos 30 milhões de hectares de perda.